LIFESTYLE | ACUMULE VIDA, NÃO COISAS


Temos um conceito de necessidade bem versátil no que diz respeito a gostos e recompensas. A palavra “necessidade” vem com tudo: quando defendemos o que desejamos, sonhamos e acreditamos piamente que precisamos e não vivemos sem isso. Necessitamos, precisamos a qualquer custo e não sossegamos, enquanto não conseguimos. E assim começamos a acumular necessidades…

Acumulamos tudo. Papel demais, vaidade demais, lixo demais, comida demais, promessas demais, móveis demais, manias demais, peso demais para uma vida que não depende, nem se garante por nada disso.

Se vamos ao supermercado, enlouquecemos. Compramos muito mais do que precisamos, saímos de lá exaustos, lisos, e com carrinhos carregados de coisas que não precisamos, que não suprem a fome que realmente temos. Mas, naquele exato momento, juramos que não haverá possibilidade de vida, se não levarmos quatro potes de cera líquida para tacos. Assim somos. Insaciáveis.

Se passamos na farmácia, ficamos imediatamente doentes, de tanta medicação que precisamos ter com urgência em casa para o caso de uma febre, um entorce, um ataque cardíaco, laringite, sinusite, tendinite…
Numa viagem, perdemos totalmente a noção de estadia provisória, levando uma bagagem gigante, pesada, desnecessária, desconfortável e ridícula.

Guardamos livros que não iremos ler mais, material escolar que jamais voltaremos a consultar, rolhas de garrafas, garrafas vazias, revistas, sacolas, roupas, enfeites, comida, remorsos, mágoas, invejas, lamúrias, ressentimentos e toda a espécie de peso nos nossos ombros.

Por fim, ficamos totalmente soterrados e engolidos, desfigurados, irreconhecíveis, distantes demais do que já ousamos sonhar em ser. Não há mais espaço para acomodar a liberdade, não há braços para carregar os sonhos, não há fôlego para acompanhar a vida que passa.

Deitemos fora, portanto, o que nos limita os movimentos. Tenhamos coragem de nos desfazer de coisas e causas que nos paralisam. Necessidade é viver em paz! Necessidade é colecionar lembranças, acumular memórias, estocar conquistas, cercar-se de afetos.
Somos errantes, podemos sempre mudar tudo e começar de novo. Impermanência, transição, transformação, em nós o fascínio por essas ideias e pelo desconhecido completa-se no desejo de explorar.
Saiamos das trincheiras, de peito aberto para a vida, sem escudos nem proteções. A vida passa rápido demais para sermos unicamente vigias dos nossos pertences. Pertençamos nós à vida, da forma mais livre possível.

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